quarta-feira, 31 de julho de 2013

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL " O MOSSOROENSE "

SUGERIDA POR "Uuh PIZZARIA"

ALICE É NOSSA PRIMA, DAI DE PATU, NETA DE MARCULINO DO PATU DE FORA, OS PAIS DELA MORAM AQUI EM MOSSORÓ.


Alice Tamirys Leite de Melo

 A trajetória da ciclista Alice Melo é repleta de desafios e superações. A jovem  mossoroense, com apenas 18 anos, hoje mora em São Paulo, longe da família, dos amigos, da sua cidade natal, em busca de realizar os seus sonhos.
Alice integra a equipe do projeto Centro de Excelência do Esporte do Ciclismo, mantido pelo Governo de São Paulo, que objetiva formar atletas que possam estar preparados para participar dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro.
Treinando cerca de sete horas por dia, a ciclista, que em sua primeira corrida, no ano de 2008, competiu com uma bicicleta emprestada pelo tio, já colhe os frutos de sua dedicação, com a conquista, por exemplo, de sete medalhas no Campeonato Brasileiro Júnior, inclusive uma de ouro.
Detalhes da história de Alice Melo, que está apenas começando, você confere na entrevista a seguir. Acompanhe.
O Mossoroense: Como teve início sua relação com o ciclismo?
Alice Melo: Comecei a pedalar com nove anos, quando meu pai saía para os treinamentos dele de atletismo, e eu queria acompanhá-lo de alguma forma, mas não tinha condições físicas para isso, então eu pegava minha bicicleta e ia com ele. Era apenas um passatempo, depois ele viu que eu estava criando gosto pelo esporte e comprou uma bicicleta para mim, daí a gente começou a fazer passeios juntos, e depois disso fui desenvolvendo a prática, quando surgiu a oportunidade de participar da minha primeira competição, a Prova Ciclística Governador Dix-sept Rosado em 2008, a 58ª edição. Corri com uma bicicleta emprestada pelo meu tio, depois de alguns treinos, nada suficiente para fazer uma boa prova, mas só o fato de estar ali competindo já era importante. Quando completei 15 anos meus pais compraram uma do modelo speed, bike de competição, foi quando comecei a treinar.
OM: Quais foram as principais dificuldades nesse período?
AM: Sem dúvida a questão dos equipamentos. Nesse período competia de maneira desproporcional com outras atletas, mas como estava em um nível regional, pra mim estava suficiente. Também havia dificuldades para participar de provas em outras regiões.
OM: E quando você percebeu que queria o ciclismo como sua profissão?
AM: Quando recebi a oportunidade de representar o meu estado na Copa Norte-Nordeste, depois de me destacar em algumas provas, no início de 2011. No final desse mesmo ano, após algumas classificatórias dos jogos escolares do Estado consegui ir a Curitiba, quando ganhei uma medalha de bronze nas Olimpíadas Escolares. Foi nesse momento que cresceu o desejo de ir em busca do meu espaço no esporte nacional.
OM: Nessa época você procurou apoio do poder público municipal e não obteve êxito. Relembre um pouco dessa história.
AM: O ano de 2011 foi sem dúvida bem complicado. Foi nessa época que demonstrei interesse de participar de algumas provas a nível nacional. A princípio eu busquei o apoio da Prefeitura, e do Governo para participar do Campeonato Brasileiro que aconteceu no primeiro semestre daquele ano, em Maringá, no estado do Paraná. Busquei a imprensa, patrocínios, inclusive de empresas privadas, algumas delas me apoiaram, como Unimed, Ótica Diniz, alguns amigos ciclistas também me apoiaram financeiramente, mas o apoio das passagens, que eram elevadas para eu e meu pai viajarmos, até então não tinha conseguido, foi quando elaborei um documento que mandei para a Prefeitura, alguns vereadores, e não tive resposta, até que o vereador Lairinho e a deputada Larissa Rosado me apoiaram, e consegui viajar junto com meu pai.
OM: Seu pai então sempre esteve muito presente em sua trajetória profissional?
AM: Meu pai sempre foi meu conselheiro para tudo, seja para minha vida pessoal e profissional. Hoje, como estou morando em São Paulo, tenho toda uma estrutura de coordenadores, quatro técnicos, que me orientam quanto a alimentação, treinamento específico, então a minha ligação com o meu pai continua sendo como conselheiro, mas não mais tão próxima.

OM: Com você citou, hoje você mora em São Paulo e integra o projeto Centro de Excelência do Esporte do Ciclismo. Como surgiu essa oportunidade?

AM: Foi quando representei o Estado nas Olimpíadas Escolares, no final de 2011 em Curitiba, quando obtive o bronze nos 500 metros, algo que ninguém imaginava que eu pudesse conquistar naquele momento. Na ocasião, um amigo jornalista que estava acompanhando a competição, Carlos Júnior, entrou em contato com Renato, um dos técnicos do Centro de Excelência de São Paulo, na hora em que acabou a prova, me apresentou a ele e falou que eu tinha enorme interesse em tentar uma vida profissional em São Paulo. Ele me convidou para fazer um teste. Pouco tempo depois, a Prefeitura de Mossoró entrou em contato comigo para fornecer as passagens para eu poder fazer o teste em São Paulo, depois de uma repercussão na mídia. Dessa vez ela acabou me ajudando. Fiz o teste na Volta do Futuro, sofri um tombo, mas isso não me impediu de terminar a volta e conseguir um terceiro lugar no geral, e fui aprovada, o que me deixou muito feliz.
OM: Um pouco mais de um ano morando em São Paulo, como tem sido esse período?
AM: Eu passei lá a temporada toda de 2012, voltei a Mossoró em setembro para participar da Prova Dix-sept Rosado, quando consegui um sexto lugar, pra mim muito importante, e no final de 2012 optei por não vir passar as férias aqui na cidade, o que acredito ter sido uma escolha muito certa, tanto que influenciou muito na temporada de 2013, quando tenho obtido grandes vitórias. O meu principal resultado foi a conquista de sete medalhas no Campeonato Brasileiro Júnior, inclusive uma de ouro, em provas como street por pontos, perseguição individual, entre outras provas de velocidade.
OM: Como você avalia a diferença na valorização do esporte em São e Paulo e no Rio Grande do Norte?
AM: Sem sombra de dúvidas em São Paulo o esporte é bem mais valorizado. Só o fato do estado possuir um Centro de Excelência, mantido pelo Governo do Estado, visando as Olimpíadas do Rio em 2016, com polos de treinamento com estrutura, bons equipamentos. É sem dúvida bem diferente do que pude acompanhar aqui, onde o setor privado investe mais do que o público.
OM: E sua rotina de treinos em São Paulo, como funciona?
AM: O nosso dia a dia, dependendo dos objetivos, prioriza alguns treinamentos. São em média sete horas por dia. No projeto são 11 atletas, associados a cidades.
OM: Você também foi contemplada com uma bolsa de estudo no projeto, não é isso?
AM: Com o título do Campeonato Brasileiro acabei conseguindo a oportunidade de ter uma bolsa-atleta, que é uma bolsa nacional. E pela equipe do Centro de Excelência, devido a alguns patrocínios, como da Faculdade Politec, consegui bolsa de 80% no curso de Educação Física.
OM: Quais são os próximos passos, ou melhor, as próximas pedaladas de Alice Melo? Há uma nova competição prevista?
AM: Os planos visíveis agora são os Jogos Abertos, que são provas importantíssimas para os municípios de São Paulo, tem ainda os próprios Jogos Regionais. Antes disso vou tentar ao máximo vir a Mossoró correr a Dix-sept Rosado, também em setembro.
OM: Você sempre cita a prova de Governador Dix-sept Rosado, por ter sido a primeira competição que participou, você guarda um carinho especial por ela?
AM: Tenho sim. Foi a primeira prova que participei da minha vida, e estar aqui na minha cidade, vendo os meus amigos ciclistas torcendo por mim, e poder mostrar que estive treinando, me dedicando aqui e agora eu estou em São Paulo vivendo os meus sonhos é indescritível. E só conquistei isso graças ao calor da minha cidade. Sou muito feliz por ser mossoroense.
OM: Alice, por ser mulher você já sofreu algum tipo de preconceito no esporte?
AM: Aqui em Mossoró sofri sim preconceito no começo da minha carreira, não pelos meus amigos, mas por algumas pessoas que se perguntavam: “Como assim, uma mulher pedalando no meios de homens”?. Mas eu gostei de ter sido pioneira nessa modalidade, por não ter sido influenciada por essas pessoas que estranharam uma mulher estar pedalando em meio a homens. Hoje eu vejo que em São Paulo a mulher praticar ciclismo é algo comum, mulheres casadas, com filhos, praticam o esporte. Agora, como em todo esporte, existem alguns privilégios masculinos que a classe feminina não tem, mas estamos conseguindo o nosso espaço.
OM: Para finalizar, qual a mensagem que você deixa aos ciclistas mossoroenses, que enfrentam uma série de dificuldades para conseguir até mesmo locais adequados e seguros para a prática do esporte?
AM: Eu diria que devemos sempre acreditar nos nossos sonhos, seguir em frente, enfrentar qualquer barreira. Muitos acham que estou lá e não enfrento dificuldades, mas Deus sabe, minhas amigas sabem o quão difícil é a saudade da família, muitas vezes o rendimento da gente não responde ao esperado. Quando realmente queremos alguma coisa precisamos seguir os nossos objetivos, não só no esporte, mas na vida, esse tem que ser o principal. Focar em um objetivo e enfrentar as dificuldades é o maior segredo para o sucesso.

Por Maricelio Almeida 
maricelio_almeida@hotmail.com

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